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Foto do escritorMoreno Addad Hassem

Teardown - Burson Audio Soloist 3X GT


Fala galera! Nesse post vamos abrir e mostrar os detalhes internos de um amplificador de áudio high-end! É o Soloist 3X GT da Burson Audio, um amp para fones de ouvido que tem características bastante singulares em relação a outros produtos desse mercado. Será que vale os quase 20 mil reais? Vamos descobrir já já.


Esclarecimento: Este artigo NÃO é um review do Soloist 3X GT. Existem diversos reviews na gringa falando nesse amp como sendo um divisor de águas, um produto excelente. O intuito aqui é abrir e mostrar a construção, ok? Vamos lá!


Vídeos



Apresentação do produto


O Soloist 3X GT é um amp de fones de ouvido da linha GranTourer, a segunda da Burson, ficando apenas abaixo da Voyager. Dentro de sua linha, o Soloist pode funcionar preamp ou amp para fones de ouvido. Isto significa que a potência, de 5W Single Ended ou 10W diferenciais, é OK para você ligar em fones até bastante exigentes ou caixas já amplificadas. No entanto, se o seu negócio for conectar em falantes, você vai precisar de um power amp - no caso o Timekeeper de quase 4000 dólares.


Entradas e Saídas


No painel traseiro ficam todas as entradas do aparelho, com conectores RCA e XLR para cada lado. Quanto às saídas, existe um mix de saídas distribuídos nos paineis traseiro e dianteiro do amp. Na traseira, temos saídas RCA e XLR, para quando ele é conectado como pre-amp em um amplificador para caixas.

No painel frontal, existem os conectores para ligar seus fones de ouvido. Há um conector P2 stereo com suporte a microfone, um conector P10 Stereo para fones profissionais e uma saída XLR stereo balanceada com 4 pinos.


Controles


Quanto aos controles, o Burson é bastante direto e simples. Todos os controles estão no painel frontal do amp. A peça central é um display de LCD gráfico, que mostra os ajustes de volume e configurações.

Há um knob de controle de volume, seletores de sinais para entrada e saída e um botão para acessar as configurações do aparelho. Como esse amp possui um stand para também ser usado na vertical, há também um controle para modificar a orientação do display. Tudo isto também pode ser ajustado usando um controle remoto, que vem incluso.

Um ponto muito interessante do Soloist 3X é a implementação do controle de volume do áudio pelo Knob. Nos dispositivos de áudio modernos com knob, o controle de volume é implementado por um circuito integrado analógico, mas com controle digital - o que é chamado de potenciômetro digital.

No entanto, nem todo potenciômetro digital pode ser usado em áudio. Existem aí requisitos de ruído, distorção e separação de canais importantes para garantir a qualidade no áudio high end. No Soloist 3X GT, controlador de volume utilizado foi o MUSES72320, produzido pela lendária New Japan Radio - agora Nisshinbo Micro Devices - uma das maiores referências no mundo do áudio e vídeo. Este chip tem excelentes especificações para ser usado em áudio - baixo ruído, baixa distorção e alta separação entre canais.


OPAMPS discretos


Outro ponto de destaque, até um pouco polêmico, é que o Soloist 3X usa amplificadores operacionais discretos no seu circuito de áudio, inclusive tornando isso uma das principais vantagens do produto. Amplificadores Operacionais, abreviados em inglês para OPAMPs (Operational Amplifiers) estão em todos os circuitos de áudio e são os principais elementos de amplificação na grande maioria dos dispositivos. Eles podem ser construídos tanto com válvulas quanto transistores e, atualmente, são usados no formato de circuitos integrados, o que garante as melhores condições de desempenho. Isso porque durante a fabricação de um circuito integrado, é possível casar perfeitamente os transistores para que não haja nenhum desbalanço na polarização deles, minimizando ruído, distorção e otimizando o consumo de energia.

A Burson vai na contramão deste raciocínio e desenvolve os amplificadores operacionais com componentes eletrônicos individuais - também chamados discretos - montados sobre uma placa de circuito. Com isso garantem controle das características construtivas e sonoridade, mas ganham um trabalho gigantesco de controle de qualidade - que provavelmente é responsável pelo alto preço deste produto.

Já que estamos falando dos OPAMPs, um ponto interessante do Soloist é que ele foi pensado para ser aberto e ter seus OPAMPS trocados. Isso facilita a manutenção, além de permitir obter diferentes sonoridades para o amplificador trocando os amplificadores originais por outros disponíveis no mercado. A própria Burson vende diversos modelos em seu site. Este modelo em particular veio com os OPAMPs V6 instalados. Após eu gravar o video a Burson lançou os V7, que são aparentemente ainda melhores.


Teardown


Para abrir o amplificador o procedimento é bastante simples. O acesso é feito soltando 4 parafusos allen na parte inferior do aparelho. Vou usar esse meu kit da iFixit que tenho há muito tempo. Ele tem todas as chaves que eu preciso, incluindo a ponteira allen pra este amp. Retirando-se os quatro parafusos, a tampa sai facilmente.

O amplificador está dividido em diversas placas e, apesar de ser tudo interessante, vamos analisar somente a placa principal. Olhando o amplificador de cima como no vídeo, a placa principal está dividida em:


  • Circuito de entrada com os OPAMPs discretos e controle de volume digital;

  • Amplificador de fones de ouvido discreto - segundo a Burson um Classe A;

  • Conversores de tensão DC-DC, incluindo fonte independente para o circuito de controle digital;


O amplificador está dividido em lado esquerdo e lado direito do áudio e conta com alimentação simétrica. Tudo como manda o figurino em um produto dessa categoria.



Cooler


A primeira coisa que notei é o cooler gigante no meio do aparelho. É um cooler Noctua padrão de PC e a própria Burson diz que, caso este quebre, você tem varias opções no mercado para troca. Importante quando este amp vem da Austrália e você não vai mandar ele de volta para lá só para trocar a ventoinha.


Entrada DC


A entrada principal de energia, vinda da fonte externa, é protegida por um fusível removível - que é bem facil de tirar do lugar. A entrada de tensão de 24V passa por uma load switch implementada com o transistor canal P, o IRF5210S. O load switch controla a passagem da tensão de entrada para os demais conversores DC-DC do amplificador.

Falando nos conversores DC-DC, foi usado o partnumber SCT2650, da chinesa Silicon Content. Trata-se de um conversor Buck de alta eficiência e com faixa de entrada e frequência de oscilação bastante amplos. Isto aumenta a tolerância a variações de entrada e permite fazer ajustes do chaveamento para garantir rapida resposta a variações de carga do amp. Isto é exatamente o que você precisa no primeiro estágio após sua fonte de alimentação DC.

Há duas fontes, uma de +21 e outra de -21 volts para cada canal, totalizando 4 fontes para áudio. Há também uma fonte separada para os circuitos de controle. Tudo está bem projetado e até um pouco superdimensionado.

No entanto, cabe aqui uma opinião - para um equipamento de 2 mil dólares, usar um conversor DC-DC de 90 centavos de uma empresa chinesa desconhecida, ao inves de algo da Linear Technology não faz sentido para mim. Eu não medi o desempenho e ele pode ser OK, mas eu definitivamente não esperava o uso de um conversor DC-DC chaveado num produto como este - muito menos um partnumber tão barato e desconhecido.


Entrada de Sinal


A entrada de sinal a partir do painel traseiro passa primeiramente pelos OPAMPs V6. No caso desta unidade estes OPAMPs estão presos com uma fita hellerman vermelha no soquete, impossibilitando que eu tire o circuito para dar uma olhada. Em respeito ao dono, não cortei a fita e procurei tomar o melhor ângulo que consegui com eles no lugar.

É bem bonita a composição visual com as torrezinhas, o que é eu acho animal em produtos eletrônicos. Eu piro em produtos que os engenheiros também pensam na beleza interna e simetria de componentes. Isto é atenção ao detalhe e é esperado num produto desse preço.


Amplificador discreto de fone de ouvido


Segundo a própria Burson, o amplificador de fones da sessão central é classe A. Neste arranjo, o elemento semicondutor opera 100% do ciclo do sinal - o que produz baixa distorção, mas ao custo de uma baixa eficiência.

Ao analisar os componentes, encontrei 4 pares de transistores de potência complementares, o B1369 e D2061, respectivamente PNP e NPN. Com isto, temos 8 transistores na saída, ao invés de 4 - o que é o dobro do que se esperaria com o Classe A.

Pelo jeitão da implementação isto se parece muito mais com um amplificador classe AB, com um par complementar para cada sinal. Na configuração AB, os transistores dividem a amplificação do sinal de entrada, mas operam com alguma sobreposição. Este arranjo melhora a eficiência em relação ao classe A, enquanto reduz a distorção de crossover causada pela configuração classe B.

Olhando a configuração do Soloist 3X GT, faz muito mais sentido que este seja um classe AB do que classe A, pela contagem dos componentes. Ou existe alguma duplicação de canais ou alguém do marketing da Burson comeu bola. Quanto à qualidade dos componentes, parecem OK para a função deles, bem dimensionados e vão entregar potência. Na potência máxima, deve esquentar bastante!


Curiosidades


Um ponto que saltou aos olhos para mim é o layout de algumas áreas da placa, com recortes estranhos no cobre. Em áudio, isto não é algo que vai prejudicar a performance do aparelho, mas não deixou de chamar a atenção. Nos meus projetos, eu tento deixar sempre a cobertura de cobre uniforme para reduzir problemas na corrosão lá na fabrica.


Uma outra curiosidade muito interessante é um circuito foto sensitivo que impede que o amplificador fique ligado caso a tampa seja removida. Como este é um amp que pode ter componentes substituídos pelo usuário, a Burson optou por incluir esse recurso para segurança. Isso é bom para o usuário não danificar o amplificador e o amplificador não danificar o usuário. Durante o teardown, eu acabei acionando várias vezes até entender como funcionava. No fim acabei usando uma régua para tampar o foto detector e poder tirar algumas medidas.


Qualidade de Construção


O 3X GT é realmente muito bem construido. Tudo é bem encaixado no lugar e não deve soltar se você tiver de transportar o amplificador. As placas tem boa qualidade no acabamento, e layout organizado e de fácil entendimento.

Os componentes não são de marcas consagradas, mas são corretamente dimensionados. Também estão bem posicionados e com a montagem correta na placa. Ocasionalmente faço manutenção em amplificadores de amigos, o que me permite ver construções de diversos tipos e qualidades. Isto me da alguns pontos de referência dentro da indústria para traçar paralelos com o 3XGT. Comparando com outros produtos mais complexos que já tive a experiência de consertar, como o Vioeletric V281, o 3X GT parece mais bem resolvido na sua construção, empregando menos placas e cabos.


Conclusão


O Burson Audio Soloist 3X GT foi um amplificador bastante interessante de analisar. Para um produto que custa de 2 a 3 mil dólares no mercado internacional, esperava-se que ele já cometesse alguns "exageros". E de fato cometeu, como o emprego de uma configuração dual-mono e OPAMPs discretos. Nada disso garante que o som vai ser melhor que uma configuração mais simples e com OPAMPs integrados. O uso de tantas fontes independentes e com alta potência garante uma excelente margem para amplificar de forma limpa. No entanto, eu não consigo ignorar os reguladores de marca genérica e custo baixissimo - uma escolha no mínimo bizarra para um produto desse.


Botando tudo na balança, olhando o projeto e construção, eu consideraria o Burson um excelente investimento para o seu setup. O produto é bem pensado, desenhado e construído e quem tiver bala pra gastar vai levar um amp parrudo pra tocar fones exigentes.


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