Edit: Erramos na medição do circuito balanceado RU6, corrigimos e refizemos. Confira a sessão de Medidas para mais detalhes!
Fala galera! Hoje vamos divulgar as medições que fizemos com o Cayin Audio RU6, um DAC R2R no formato portátil, para uso com celulares e computadores. Normalmente este formato é dominado por soluções utilizando DACs super integrados, todos delta-sigma. Então é muito interessante ver uma opção R2R neste tamanho e formato. E ai será que entrega o que promete? Vamos conferir.
Construção, conexões e controles
O Cayin RU6 é um DAC no formato dongle, com cabo destacável. O produto é construído em um gabinete de alumínio usinado por CNC e anodizado na cor preta, com acabamentos em vidro nas faces frontal e traseira. Pesa 28 gramas, o que por si só não diz nada, mas quando pegamos na mão para conectar e controlar, passa certamente a impressão de premium pela sensação dos materiais e peso. O produto testado foi cortesia de um de nossos apoiadores e veio com uma case original em couro.
De um lado está o conector USB tipo C e do outro estão dois conectores de saída de áudio, um jack P2 (3.5mm) single ended stereo e um Pentaconn (4.4mm) balanceado stereo.
Os controles disponíveis estão concentrados em uma das laterais do aparelho - dois botões de controle de volume e um para acessar as configurações, que são simples. Estranha a escohla da Cayin de imprimir o rótulo de ponta cabeça com o DAC colocado na posição em que o display está visível ao usuário.
Especificações e recursos
O Cayin RU6 é um DAC R2R. Isto significa que não há chip de DAC, já que o sinal digital é convertido em analógico usando uma escada de resistores R-2R. Neste arrajo o sinal é convertido de forma paralela, de uma vez, passando por todos os resistores. Não há chip de conversão, apenas uma lógica digital para pegar o sinal serial de áudio vindo do USB e converter em paralelo para os resistores da escada R-2R.
Com isto, o fabricante do produto ganha 100% do controle e responsabilidade pela qualidade da conversão de áudio. Em um DAC R-2R, para garantir linearidade e baixa distorção, os resistores devem ser perfeitamente casados no processo produtivo.
Reproduzo abaixo a tabela de especificações, retirada do site da Cayin Audio:
O DAC possui poucas configurações:
2 modos de ganho: High e Low;
2 modos de sobreamostragem: Oversampling (OS) e Non-Oversampling (NOS);
Controle de tempo do backlight do display.
Os modos de ganho são auto explicativos - servem para acomodar fones mais ou menos exigentes. O controle de sobreamostragem, no entanto, é um pouco mais sutil. Em um DAC delta-sigma convencional, o sinal é amostrado muitas vezes acima da frequencia desejada. Com isto é possível manipular o ruído da conversão e coloca-lo em uma região do espectro que não impacte a audição do produto. Em um DAC R-2R é possível optar por usar sobre amostragem ou não. Na prática é possivel ver este efeito colocando o DAC para tocar um tom de 1kHz. Observe nas capturas abaixo, feitas com o osciloscópio, as ondinhas tipicas da conversão quando o modo sem sobre amostragem (NOS) é usado.
Na figura acima damos um zoom na subida de um tom senoidal o que nos permite ver os artefatos causados pela conversão. Agora compare com a captura feita com sobre amostragem.
Vamos agora às nossas medidas!
Medidas
O DAC especifica que entrega 138mW @ 32 ohms na saída Single Ended e 213mW @ 32 ohms na saída balanceada. Utilizando o RTB2004 e o Ampsight, montamos a bancada para verificar se o RU6 cumpre a promessa.
Feitos os preparativos, vamos verificar os resultados das medidas. Você pode conferir os resultados nossa seção de medições, comparando com outros produtos do mercado. Abaixo reproduzo o resultado bruto tomado via Excel.
Saída Single Ended
Saída Balanceada
As medidas mostram que a saída Single Ended de fato entrega a potência indicada. Medimos 139mW em 30 ohms, o que é muito próximo do valor divulgado para 32 ohms. Tudo correto!
A saída balanceada do RU6, no entanto, provavelmente tem algum problema, pois não está entregando a potência prometida de 213mW em 32 ohms. E, quando visualizamos a forma de onda do tom senoidal de 1kHz usado para testes, nota-se uma distorção de cross-over bastante exagerada:
Mandamos uma mensagem para a Cayin audio pedindo algumas explicações a respeito. Se for uma unidade com defeito, retestamos!
--- UPDATE: Medimos errado! ---
Pois é, pessoal, o problema no fim das contas era na pecinha operando o sistema todo. Eu usei o cabo SMA conectando o Pinguelômetro ao RU6 - que é o setup mais conveniente para medição de sinais Single Ended. Se ligamos o sinal diferencial no conector SMA, isto equivale a aterrar o sinal negativo, causando um consumo excessivo e distorção do sinal de saída, justamente o que observamos. Falha nossa!
Ao medir sinais diferenciais, você precisa ter uma ponta de prova diferencial (caríssima!!!!) ou fazer um arranjo diferente e ligar duas pontas de prova do osciloscópio aos terminais DMM do pinguelômetro e fazer um pouco de ginástica matematica no osciloscópio para calcular a diferença entre as ondas. Quando fazemos isto com o RU6, este é o resultado:
Os sinais C1 e C2 são os canais do osciloscópio medindo os pontos DMM do Ampsight. O M1 é o resultado (C1 - C2), gerando o sinal de sáida, perfeito como se esperava.
Como não houve defeito no DAC, nossa percepção sonora é a mesma. O RU6 tem um som bastante característico e um pouco distorcido, muito embora não tanto quanto a imagem "com defeito" fizesse acreditar.
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Durante o consumo da potência máxima do DAC, aproveitamos para medir também a corrente consumida na porta USB, usando um medidor especial para esse fim:
A maioria das portas USB devem dar conta de alimentar o RU6, o que é um importante requisito dessa categoria de portáteis.
Qualidade de Som
Para teste do RU6, usei o Thieaudio Ghost como fone over e um Dunu Titan S2 como fone in-ear. Nenhum dos dois são fones é difícil de tocar, mas são os representantes que estão nas minhas orelhas no momento. Para evitar o potencial problema da saída diferencial com distorção, optamos por fazer os nossos testes com a saída 3.5mm.
Em ambos os casos, a percepção foi a mesma: o som do RU6 não é transparente e analítico. É um som distorcido e com aparente reverberações dos transientes das músicas, como se as altas frequencias ecoassem após serem reproduzidas, causando um efeito que ao meu ver não é prazeroso. Ainda não temos nosso equipamento para medida de THD+N, mas eu arrisco dizer que os niveis de distorção são maiores que a média dos aparelhos, até mesmo para um DAC R-2R.
Conversando com diversas pessoas do hobby, este produto é um divisor de opiniões. Algumas pessoas juram de pés juntos que amam estes "trejeitos" sonoros do RU6 e que isto melhora a experiência sonora. Ai cabe um ponto importante, a separação entre o gosto pessoal e a qualidade. Meu objetivo como especialista é trazer a perspectiva da qualidade, tentando orientar nosso leitor sobre o que está feito corretamente o que precisa ser revisto. Estabelecido um ponto de partida da qualidade, deixo cada um tomar a decisão sobre o que é de seu gosto pessoal.
Conclusão
Somando-se tudo, eu não consigo recomendar o RU6, se você não tem certeza absoluta que já gosta dele de alguma audição prévia. É um produto muito bem construido, um dos poucos R-2R pequenos para você levar contigo para onde quiser. Mas, se você busca uma fonte neutra para usar em qualquer situação, como é o caso da maioria dos consumidores deste formato dongle, um DAC com alta distorção e que aparentemente não entrega a potência combinada não parece um bom negócio. E aí temos o problema do preço: o RU6 custa 200 dólares em 2024, o que considero arriscado dentro do formato. Dá pra gastar bem menos em um DAC e focar sua grana em um fone melhor. Ou mais fones de ouvido!
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